O lema “Rise for Freedom!” (Levantem-se para a Liberdade) juntou cerca de uma centena de mulheres africanas no encontro virtual realizado na abertura da campanha dos 16 dias de activismo contra a violência contra mulheres e raparigas. O encontro organizado pela One Billion Rising Africa (OBR) teve como subtema: “A luta das mulheres africanas na encruzilhada do fascismo e do patriarcado em África”.

Eve Ensler, fundadora do Dia-V e fundadora da OBR, mais conhecida e carinhosamente tratada por Mama-V, durante a abertura do encontro disse que duma maneira geral a violência contra a mulher e a rapariga cresce a cada dia, em todo o mundo.

“É nossa vez de fazermos o melhor para um mundo melhor onde as mulheres também irão participar e viverem num mundo melhor”.

Lomcebo Dlamini, feminista e advogada em Eswatini (antiga Suazilândia) apontou os casos de violência, opressão, matanças de pessoas que contradizem os regimes políticos africanos. Mencionou a militarização da maioria dos países africanos que em vez de trabalhar para o melhoramento da economia e bem-estar dos povos, preferem comprar mais armamento sofisticado para matar e silenciar a todos que contrariam as políticas. Matando assim, mulheres e crianças.

“Esses países criam diferenças artificiais nas sociedades. E essas são ferramentas que os políticos usam para abusar o povo. Ao mesmo tempo usam a Media para fazer propaganda” disse Lomcebo.

Ela disse ainda que a concentração do poder dos líderes faz com que eles se beneficiem dos bens e recursos que deviam beneficiar a todo o povo. Na maioria dos países, com recursos minerais, as mulheres são sujeitas a violência baseada no género e abusos sexuais que criam trauma.

Na sua análise mencionou que em África, o maior número de assentos parlamentares e na política é de mulheres e isso devia significar algo para o povo. O uso da cultura e religião continuam a apoiar a ideia de que a mulher é fraca.

Perante esta situação, a jurista Lomcebo Dlamini sugere que se faça uma campanha sustentável para continuar a construção da solidariedade entre mulheres feministas. Uma outra medida seria continuar a desafiar o patriarcado (normas e agendas), mas com engajamento inter-geracional, isto é, garantir o envolvimento de mulheres jovens nesta grande luta.

Lucinda Ndlovukazi, coordenadora da OBR na África do Sul, começou a sua abordagem criticando que já não há respeito pela mulher. Mulher essa que é mãe e nasceu os homens. Mas por causa do patriarcado a mulher é usada para votar nos homens durante as campanhas eleitorais e depois abusam-na e bloqueiam-na. O patriarcado inicia com o sistema de irmandade em que o poder é partilhado entre os homens e, continua a usar o mesmo sistema porque tem recursos para tal. Para responder a este desafio, Lucinda diz que a educação das mulheres é muito importante, pois ela deve ser a única arma para lutar contra o patriarcado.

A dado passo, falou da crise em que Moçambique encontra-se mergulhada, neste momento pós-eleitoral. Aponta a devastação da economia moçambicana perante o silêncio da África do Sul.

“Não percebo como é que filhos de dirigentes compram mansões na África do Sul e este país aceita isso e não reage”, clama Lucinda Ndlovukazi.

A media social tem um papel fundamental de ensinar também. Deve explicar às mulheres, para elas melhor entenderem os conceitos de fascismo e patriarcado. As mulheres também devem ser ensinadas os métodos de auto-sustentabilidade para que elas estejam livres e sejam empoderadas. “Nós mulheres somos a maioria da população e somos poderosas”, concluiu Lucinda Ndlovukazi.

Entretanto, Maureen Tresha, coordenadora da OBR Zâmbia disse que a solidariedade é a causa comum que as mulheres têm para saberem o que é o patriarcado e o fascismo e como afecta a muitas mulheres. Questionou se as leis dos países africanos favorecem às mulheres? Maureen acredita que algumas leis são boas, mas a sua implementação não condiz com a realidade.

“A vantagem da OBR é que podemos partilhar com as nossas irmãs de outros países e se a voz é única, será fácil sermos ouvidas pelo mundo e pelos políticos a níveis nacional, regional e internacional”, conclui Mareen Tresha.

Por sua vez, Monique Wilson, Directora Geral da OBR ao finalizar o encontro, apelou para que as feministas sociais, activistas, emigrantes, académicas, justiça social, direitos humanos e outras não aceitem líderes e políticos, violarem os direitos humanos.

“Não aceitemos a legalização e normalização da descriminação contra a mulher”, concluiu Monique Wilson.

Violência em Moçambique

Moçambique não é excepção. Os casos de violência doméstica crescem tal como noutros países, mas as mulheres de Moçambique, em particular, estão agora a atravessar momentos difíceis. As mulheres e raparigas da Província de Cabo Delgado sofrem violência de diferentes tipos e, todas as mulheres, neste momento, sofre violência duma ou doutra forma. Mulheres, mães e raparigas, neste momento de crise pós-eleitoral, sofrem dupla violência, nomeadamente a violência doméstica e a política.

Mulheres que perdem seus maridos e filhos a qualquer hora e em qualquer lugar quando polícias atiram para matar. É dramático os polícias entram nos bairros, nas casas e atirarem contra pessoas indefesas, em nome da lei e ordem e as mulheres assistem, sem poderem fazer nada.

Recentemente, mulheres de diferentes organizações, concentraram-se e marcharam em protesto da morte de uma mulher que foi deliberadamente atropelada por um veículo militar blindado, em plena avenida Eduardo Mondlane, onde estava um grupo de manifestantes a exigirem justiça eleitoral.

A celebração e as actividades dos 16 dias de activismo contra a violência contra a mulher e a rapariga em Moçambique está vestida e carregada de muita dor para as mulheres moçambicanas.

(Lançamento dos 16 dias em Chibuto)

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